sábado, 25 de junho de 2011

Parentes de vítimas do acidente entre escolar e trem congestionam hospital em BH

Pedro Ferreira -
 

O desespero dos pais das crianças feridas no choque entre um trem e um ônibus escolar em Entre Rios de Minas, na Região Central do estado, se misturava ao barulho intenso das sirenes de ambulância, que não paravam de chegar ao pronto-socorro do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, durante toda a manhã de quarta-feira. Em busca de notícias, muitos aceitaram a ajuda de uma empresa que está em instalação no município e custeou a viagem até Belo Horizonte. São lavradores, a maioria pessoas humildes da zona rural, que faziam questão de dar educação dos filhos. Abalados, pais e moradores da região denunciam que não há sinalização para a travessia da linha férrea.

“Se ele (o motorista) levava crianças, alunos a caminho da escola em busca de um futuro melhor, tinha que ter responsabilidade e dar segurança. Eram nossos filhos que estavam ali e ele precisava ter parado para olhar se vinha trem, antes de atravessar. Não há sinalização para os motoristas que cruzam a via, só para os trens. Mas a lei só é rigorosa com a gente. Aquele escolar não tinha cinto de segurança, porque, se tivesse, ninguém tinha voado dentro dele, quando o trem de ferro arrastou o ônibus. Minha filha Lívia, de 9 anos, ficou muito ferida e estava sentindo muita dor. Perdi uma sobrinha de 16 anos que também ia estudar, e minha irmã, Leiva Fonseca, de 35, que trabalhava como costureira na cidade e pegava carona no ônibus”, desabafou o lavrador Glênio Fonseca, tentando conter as lágrimas.


Onze pessoas foram internadas no HPS João XXIII, sendo oito crianças e adolescentes. Quatro, em estado mais grave, foram socorridas de helicóptero. O motorista do escolar, Antônio Geraldo de Assis Moura, de 50 anos, estava entre os socorridos em BH, mas não resistiu aos ferimentos. A lavradora Marlene Conceição da Fonseca Silva, de 31 anos, estava nervosa, em busca de notícias sobre as filhas Jaqueline Fabrícia Silva Resende, de 10, e Janaína das Dores Silva Resende, de 11, que teve traumatismo craniano grave e chegou de helicóptero, entubada. Marlene conta que a travessia é perigosa, porque são duas linhas férreas, pelas quais o ônibus passa na ida e na volta.

“Já tinha pedido na escola que colocassem outro carro por uma estrada de terra, para que as crianças não precisassem cruzar a linha. Lá é perigoso, não tem sinal de trânsito nem alerta de som, só uma placa avisando para parar. Tem uma curva próxima à linha do trem, mas, se o motorista parar, consegue ver. Minhas filhas pegaram o ônibus no ponto às 6h e uma vizinha, que levava a filha para a Apae, ligou contando sobre o acidente”, disse Marlene, que mora na zona rural do distrito de Brumadinho.

A mãe do estudante William Pedro da Silva, de 15, disse que o adolescente teve ferimentos leves e já torcia por sua recuperação rápida, para ele comemorar o aniversário em casa. Aluno do segundo ano da Escola Estadual Expedicionário Geraldo Breta, em Entre Rio de Minas, o menino sofreu o acidente a cinco quilômetros de casa, na zona rural de Moinho Velho.

“Na hora que recebi a notícia da batida do trem no ônibus, achei que todo mundo tinha morrido e minha preocupação de todo dia com aquela linha de trem virou desespero. Acho que ele só quebrou a perna. William quer ser médico, é ótimo aluno e nunca perdeu média. Dia 29 ele faz 16 anos e o presente será voltar logo para casa e para a escola”, disse a lavradora Maria Neuza Vieira Silva, de 35. “Graças a Deus ele está bem. Poderia ter sido muito pior”.